Nesta segunda-feira (21), um grupo de moradores de Fernando de Noronha realizou um protesto pacífico para exigir a realização de eleições diretas para o cargo de administrador da ilha. A manifestação reuniu dezenas de pessoas em uma passeata que teve início em frente à Escola Arquipélago, no bairro da Floresta Velha, e seguiu pelas ruas e pela BR-363 até a Vila dos Remédios.

A principal reivindicação do ato é a aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que tramita na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). A PEC prevê que a população da ilha passe a escolher o administrador geral por meio do voto direto, o que nunca ocorreu em Noronha. O projeto foi apresentado pelo deputado estadual Waldemar Borges (PSB) e já conta com apoio de representantes locais.

Conselheiros e moradores defendem direito ao voto

A manifestação contou com a participação de conselheiros distritais e moradores da ilha. Um dos organizadores, Ailton Araújo Júnior, afirmou que a proposta representa um sonho antigo da comunidade.

“Nunca tivemos opção de escolher o gestor da ilha. Queremos uma pessoa eleita, que seja de Noronha e que use os serviços públicos como hospital e área social. Isso trará mudanças reais”, destacou Ailton Júnior.

Outro conselheiro, Daniel Oliveira, ressaltou a importância da democracia plena na gestão local:

“É uma dificuldade tremenda não poder escolher quem vai comandar a ilha. Em qualquer lugar do mundo democrático, o voto popular define os líderes”, afirmou.

O arquiteto João Rocha, também morador, defendeu que a comunidade possui maturidade política para participar desse processo:

“Temos consciência, queremos o direito de escolher — inclusive de errar e tentar de novo. Não se pode mais ignorar esse direito”, disse.

A empresária Natália Veríssimo da Costa criticou o modelo atual de nomeação:

“Noronha é o único lugar do Brasil onde o gestor não é eleito. Vivemos como em um regime monárquico. Estamos em 2025 e isso precisa mudar.”

Como é a escolha do administrador de Noronha atualmente

Atualmente, o cargo de administrador geral de Fernando de Noronha é indicado pelo governador ou governadora de Pernambuco. Antes da posse, o nomeado precisa ser sabatinado pela Comissão de Justiça da Alepe e, em seguida, aprovado em plenário pelos deputados estaduais.

Por outro lado, os moradores da ilha votam normalmente nas eleições nacionais e estaduais, escolhendo governador, senador, deputados, presidente da República e os conselheiros distritais. No entanto, não têm direito ao voto direto para o cargo de administrador geral da ilha.

Impasse político: ilha segue sem administrador oficial

Fernando de Noronha está sem administrador geral desde a exoneração da ex-gestora Thallyta Figueirôa, em 28 de janeiro de 2025. Desde então, uma série de nomeações e desistências marcaram a indefinição do novo gestor:

• 28 de janeiro: Thallyta Figueirôa é exonerada; Walber Santana é anunciado como substituto;
• 19 de fevereiro: nome de Walber é enviado à Comissão de Justiça da Alepe;
• 10 de março: governadora Raquel Lyra (PSD) desiste da indicação na véspera da sabatina;
• 27 de março: Diário Oficial publica mudanças na equipe da Administração de Noronha;
• 28 de março: indicado o nome do advogado Virgílio de Almeida Ignácio de Oliveira;
• 8 de abril: nomeação do administrador adjunto, José Aglailson Queralvares Neto, é publicada.

Enquanto a Alepe não conclui a sabatina do novo indicado, a ilha segue sob comando interino de José Aglailson Neto, que atua como administrador adjunto.