O Brasil está prestes a dar um passo histórico na prevenção de futuras pandemias com a primeira vacina 100% nacional contra a gripe aviária em humanos. O imunizante, desenvolvido pelo Instituto Butantan, aguarda apenas autorização da Anvisa para iniciar testes clínicos em 700 voluntários em São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco — onde o estudo terá importante protagonismo científico.
Em Pernambuco, a pesquisa será conduzida sob a liderança dos cientistas Rafael Dhalia, da Fiocruz PE, e Carlos Brito, do Plátano Centro de Pesquisas Clínicas, que sediará os testes.
Tecnologia consagrada, foco específico: H5N8
A vacina utiliza a mesma base tecnológica da vacina contra a gripe comum oferecida anualmente no SUS, mas com um diferencial crucial: trata-se de um imunizante monovalente, direcionado exclusivamente à cepa H5N8, uma das variantes mais letais da influenza aviária.
“Trata-se de uma vacina que pode criar anticorpos eficazes contra o vírus, funcionando como pilar preventivo para evitar uma nova crise pandêmica”, destaca Rafael Dhalia.
Pernambuco como modelo de descentralização científica
O envolvimento de Pernambuco na pesquisa é simbólico e estratégico. Historicamente, os grandes estudos clínicos no Brasil se concentram no eixo Sul-Sudeste. No entanto, a participação do Plátano Centro de Pesquisas Clínicas, que já liderou testes para vacinas contra Chikungunya e influenza tetravalente, mostra que o Nordeste tem estrutura e expertise para atuar em projetos de alto impacto.
“Esse protagonismo reflete o planejamento técnico e o engajamento dos pernambucanos com a ciência”, afirma Dhalia.
Como serão os testes: triagem rigorosa e acompanhamento detalhado
Em Pernambuco, os 700 voluntários serão divididos em dois grupos etários: de 18 a 59 anos e 60 anos ou mais. Cada participante receberá duas doses da vacina ou placebo, com intervalo de 21 dias entre as aplicações. Apenas um em cada sete receberá o placebo.
O protocolo inclui:
“Essa metodologia permite avaliar tanto a segurança quanto a eficácia imunológica da vacina de forma criteriosa”, explica o pesquisador.
Risco iminente: gripe aviária já matou quase 50% dos infectados
A urgência da vacina se sustenta em números alarmantes. Desde 2003, foram registrados 954 casos de gripe aviária em humanos em 24 países, com 464 mortes — uma taxa de letalidade de 48,6%, muito superior à da COVID-19.
Em janeiro de 2025, a morte de um cidadão norte-americano infectado pela cepa H5N1, com indícios de mutação para transmissão entre humanos, acendeu um novo alerta global.
“Não é mais questão de ‘se’ a próxima pandemia virá, mas de quando”, alerta Dhalia.
Impacto nas aves já é devastador e afeta biodiversidade
Enquanto a ameaça aos humanos cresce, o impacto em aves já atingiu níveis catastróficos. Desde 2021, mais de 300 milhões de aves foram sacrificadas em 79 países, afetando 315 espécies silvestres.
Esse contexto reforça a necessidade urgente de um imunizante eficaz que rompa a cadeia de transmissão zoonótica, protegendo a saúde pública global.
Voluntariado como base para o avanço científico nacional
Para que a vacina avance às próximas fases, o apoio da população é essencial. Os pesquisadores fazem um chamado ao engajamento voluntário, lembrando o exemplo da pandemia da COVID-19.
“Estarmos preparados é essencial. Desta vez, o Brasil tem a chance de sair na frente, com uma vacina 100% nacional. Para isso, o apoio da população é fundamental”, reforça Dhalia.
Brasil na vanguarda: um marco na ciência nacional
O início dos testes da vacina brasileira contra a gripe aviária representa não apenas um avanço técnico, mas também um marco de soberania científica e mobilização social.
Pernambuco, com sua estrutura de pesquisa robusta e capital humano qualificado, consolida-se como peça-chave neste projeto, que pode salvar vidas e evitar uma nova pandemia.