O transtorno do espectro autista (TEA) é frequentemente associado à infância, mas a realidade de muitas pessoas autistas é que a descoberta dessa condição ocorre apenas na vida adulta. Estima-se que cerca de 70 milhões de pessoas no mundo vivam com o transtorno, sendo que 2 milhões delas estão no Brasil. No entanto, muitos ainda desconhecem os sintomas do TEA, que podem se manifestar de formas sutis, principalmente na fase adulta.
O Autismo: Uma Condição que Desafia os Limites do Comportamento Social
O autismo é um transtorno neuropsiquiátrico que se caracteriza por dificuldades nas interações sociais, comunicação, comportamento repetitivo e padrões de pensamento rígidos. Essas dificuldades podem prejudicar significativamente a vida social e profissional dos indivíduos autistas. Embora o autismo geralmente seja diagnosticado na infância, há muitos casos em que a condição passa despercebida até a idade adulta.
A Descoberta do Autismo na Vida Adulta: Desafios e Estigmas
O psiquiatra do Hospital Jayme da Fonte, Vitor Hugo Stangler, aponta que o autismo pode ser confundido com timidez ou introversão em crianças, o que torna o diagnóstico mais difícil. Muitos adultos só descobrem que possuem o transtorno após passarem por dificuldades significativas em suas relações sociais e profissionais. De acordo com Stangler, esses indivíduos geralmente apresentam o nível 1 do transtorno, considerado o mais leve, o que pode fazer com que suas dificuldades não sejam notadas de imediato.
"O autismo na infância pode ser confundido com a timidez natural ou com comportamentos repetitivos comuns na fase de desenvolvimento", explica o especialista. Muitas vezes, esses sinais passam despercebidos pelos pais e educadores, o que resulta em um diagnóstico tardio, na fase adulta. Para essas pessoas, as dificuldades sociais podem ser intensificadas à medida que entram na vida adulta e enfrentam pressões da vida cotidiana.
O Impacto do Autismo na Vida Adulta: Ansiedade e Depressão
Ao longo da vida adulta, muitos indivíduos autistas experimentam ansiedade e depressão devido às dificuldades enfrentadas em suas relações sociais e na adaptação a ambientes profissionais e sociais. Os padrões de funcionamento rígido e as dificuldades de interação social causam sofrimento significativo, tornando essencial o diagnóstico e o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar para garantir um tratamento adequado.
O Diagnóstico e o Tratamento do Autismo na Idade Adulta
O diagnóstico do autismo na vida adulta é mais complexo e requer uma avaliação aprofundada por profissionais especializados como psiquiatras, neurologistas e psicólogos. Para esses casos, além do acompanhamento clínico, também podem ser utilizadas entrevistas padronizadas e avaliações neuropsicológicas para confirmar a condição. Stangler reforça a importância de um tratamento multidisciplinar, que inclui neurologistas, psiquiatras, psicólogos e, em alguns casos, terapeutas ocupacionais, para ajudar o indivíduo a se adaptar às atividades diárias.
Políticas Públicas e Inclusão: O Papel do Governo Federal no Apoio aos Autistas
Em relação ao apoio a pessoas autistas, o Governo Federal tem tomado iniciativas significativas para promover a inclusão social e a acessibilidade para o público com TEA. Em 2 de abril de 2025, durante o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, foi aprovado no Senado Federal o Projeto de Lei 4.262/2020, que garante a inclusão de pessoas autistas no Sistema Único de Saúde (SUS), com a disponibilização de terapia nutricional por profissionais habilitados. Esse projeto segue para sanção presidencial e representa um avanço importante no acolhimento e assistência a essa população.
"Essas políticas de inclusão são essenciais para ajudar as pessoas autistas a lidarem com as limitações causadas pelo transtorno, garantindo-lhes uma melhor qualidade de vida", afirmou Stangler. A implementação de programas públicos direcionados ao público autista visa promover uma maior integração social e proporcionar a essas pessoas as ferramentas necessárias para superar as dificuldades do transtorno.
O Caminho para a Inclusão: A Importância de Políticas de Acolhimento
O especialista ressalta que, além da inclusão no SUS, outras políticas de acolhimento são fundamentais para garantir que as pessoas autistas possam viver de maneira mais independente e plena. A inclusão social, a acessibilidade a tratamentos e a prevenção de estigmas são fundamentais para que os autistas, tanto na infância quanto na vida adulta, possam alcançar seu potencial máximo.
O diagnóstico precoce e o acompanhamento contínuo são elementos cruciais no processo de inclusão e adaptação das pessoas com TEA. Com o avançar das políticas públicas, as pessoas autistas têm mais chances de superar desafios e conquistar uma vida mais saudável e participativa na sociedade.
Conclusão: O Reconhecimento e Acolhimento Como Caminho para a Inclusão
Embora o autismo ainda seja muitas vezes percebido apenas como uma condição infantil, é essencial que a sociedade reconheça e entenda os desafios enfrentados pelos adultos com TEA. A inclusão de políticas públicas, como o acolhimento no SUS e o acesso a terapias adequadas, são passos importantes para garantir que esses indivíduos recebam o apoio necessário ao longo de suas vidas. A conscientização, o diagnóstico precoce e o acompanhamento especializado são fundamentais para a promoção de uma sociedade mais inclusiva e equilibrada para todos.